terça-feira, abril 09, 2002

O simbolismo da romã está ligado ao simbolismo mais geral dos frutos que têm muitas pevides. É, antes de mais nada, um símbolo de fecundidade, de posteridade numerosa. Na Grécia antiga, a romã era um atributo de Hera e de Afrodite; e em Roma, o toucado das noivas era feito de ramos da romãzeira (Punica granatum). Na Ásia, a imagem da romã aberta serve à expressão dos desejos - quando não designa expressamente a vulva. O que confirmaria a legenda de uma imagem popular vietnamita: a romã se abre e deixa sair cem crianças. Da mesma forma, no Gabão esse fruto simboliza a fecundidade maternal. Na Índia, as mulheres tomavam suco de romã para combater a esterilidade.

A mística cristã transpõe esse simbolismo da fecundidade para o plano espiritual. Assim é que São João da Cruz faz das sementes da romã o símbolo das perfeições divinas nos seus efeitos inumeráveis. E acrescenta a redondeza do fruto como expressão da eternidade divina e a suavidade do suco como imagem da beatitude da alma amante e cognoscente. De modo que a romã representa, ao fim e ao cabo, os mais altos mistérios de Deus, seus mais profundos desígnios, e suas mais sublimes grandezas (Cântico espiritual). Os Padres da Igreja também quiseram ver na romã um símbolo da própria igreja. Assim como a romã contém, debaixo de uma só casca, um grande número de sementes, assim também a Igreja une numa só crença povos diversos.

A semente da romã teria tido, na Grécia antiga, um simbolismo ligado ao pecado. Perséfone conta a sua mãe de como foi seduzida a contragosto: ele me pôs na mão sorrateiramente um alimento doce e açucarado - uma semente de romã - e, embora eu não o quisesse, ele me forçou a comê-lo (Hino homérico a Deméter). A semente da romã, que condena aos infernos, é um símbolo das doçuras maléficas. Assim, Perséfone, por tê-la comido, passará uma terça parte do ano na escuridão nevoenta e as outras duas partes junto aos Imortais. No contexto do mito, a semente da romã poderia significar que Perséfone sucumbiu à sedução e merece, portanto, o castigo de passar um terço da sua vida nos infernos. Por outro lado, provando uma semente de romã, ela quebrou o jejum, que era a lei dos Infernos. Ali, quem quer que comesse qualquer coisa ficava impedido de voltar à terra dos vivos. Foi por um favor especial de Zeus que ela pôde dividir sua existência entre os dois lugares.

Se os sacerdotes de Deméter, em Elêusis, ditos hierofantes, apareciam coroados de ramos de romãzeira por ocasião dos grandes mistérios, a romã, fruto sagrado, que causou a perdição de Perséfone, era rigorosamente proibida aos iniciados, uma vez que, símbolo da fecundidade, leva em si a faculdade de fazer descer as almas à carne. A semente da romã, comida pela filha de Deméter, levou-a aos Infernos e, por uma contradição aparente do símbolo, condenou-a à esterilidade. A lei permanente dos Infernos prevalece sobre o efêmero prazer de provar da romã.

A semente vermelha e lustrosa de um fruto infernal evoca melhor que qualquer outra coisa a parcela do fogo ctoniano que Perséfone subtraiu em proveito dos homens. A sua volta à superfície significa o reaquecimento e o reverdecimento da terra, a renovação primaveril e, obliquamente, a fertilidade. Então, desse ponto de vista, Perséfone se junta aos inúmeros heróis civilizadores que, em diversas partes do mundo, roubaram o fogo para garantir a perenidade da vida.

Na poesia galante da Pérsia, a romã evoca o seio: suas faces são como a flor da romãzeira, e seus lábios como a doce granadina. Do seu peito de prata brotam duas romãs (Firdusi).

Uma adivinhação popular turca, citada por Sabahattin Eyuboglu (Siirle Fransizca, Istambul, 1964), fala da noiva como uma rosa não cheirada, uma romã ainda não aberta.

(Dicionário de Símbolos - pg. 787)

Pois é... já saquei que não tem como eu entender o meu sonho!!

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