sexta-feira, março 07, 2003

Cães nascidos de gata atraem curiosos

A notícia correu mais rápido do que pólvora e transformou uma pequena casa de três cômodos no Jardim das Orquídeas, em Sumaré, em ponto de peregrinação de curiosos de toda a Região desde a última terça-feira, dia 4. Das 8h até às 23h dezenas de pessoas se acotovelam na porta do local para ver de perto uma pequena caixa preta de supermercado deixada em um canto da cozinha.

Os "culpados" por tanta agitação são a gata Mel, de pouco mais de dois anos de idade, e seus quatro filhotes recém-nascidos: Dudu, Lassie, Xuxa e Xandu. Até aí, tudo normal. O problema é que dois deles, ao invés de miar, estão mais para latir. A empregada doméstica Sueli Pimenta, de 32 anos, jura que sua mascote felina reverteu toda a ordem da Natureza para dar a luz a cachorrinhos.

Segundo ela, ao todo, nasceram dez filhotes - seis gatos e quatro cães - mas a maioria acabou morrendo horas depois do parto que está deixando muita gente de orelha em pé. O primeiro que poderia ser apontado como o vilão da história é Beethoven, um pequeno vira-lata orelhudo que anda se escondendo do movimento da casa ultimamente. Mas, com apenas quatro meses de vida, ele é considerado muito novo para tal ousadia.

"Não faço a mínima idéia do que pode ter acontecido. A Mel sempre sai para a rua de noite e só volta lá pelas 7h. Ela entra pela janela, nos acorda e vai comer. No dia do parto, ela entrou e foi direto para debaixo da cama de um dos meus filhos. Depois disso, não vimos mais nada", conta Sueli, que divide a casa pobre com mais cinco crianças e adolescentes. Questionada sobre a grande possibilidade de alguém ter colocado os cachorrinhos junto aos gatos, a pequena Edmara, de 9 anos, retruca no ato. "Como que conseguiram entrar aqui às 7h sem a gente ver? Isso é impossível", emenda a menina.

Avessa à polêmica, Mel tem preferido descansar e evitar os flashes da imprensa que, de uma hora para outra, decidiu persegui-la. "Já veio gente até de São Paulo atrás dela aqui em casa", diz Edmara. Mesmo com toda a confusão armada, o mais importante é que a gata tem alimentado os quatro sem qualquer distinção, na maior democracia.

Dispostos a ajudar por um período no sustento de Mel e os filhotes, integrantes da Associação dos Amigos dos Animais de Campinas estiveram na casa de Sueli na tarde de quinta oferecendo leite e ração, tanto para gatos como para cães.

R$ 180
A curiosidade geral em torno do parto já tem rendido ofertas tentadoras para a empregada doméstica que quase não tem o que oferecer de comida para os próprios filhos. "Um rapaz me ofereceu R$ 180,00 por cada um dos filhotes", lembra Sueli, que só não vendeu todos imediatamente porque a criançada bateu o pé. Enquanto isso, ela luta para manter a família em ordem. "Todo mundo falando dos filhotinhos, mas quem eu preciso sustentar mesmo são os filhotões aqui. Estou muito necessitada", completa a dona de Mel.

Adoção
Nada de milagre, aberração da natureza ou truques mirabolantes. Para o veterinário Cláudio Luiz Castagna, que atua na Vigilância Sanitária de Campinas, o surgimento de cachorrinhos em meio aos filhotes da gata Mel pode ser facilmente explicado. Segundo ele, em suas andanças pela noite, a gata pode muito bem ter encontrado os cãezinhos em outro local os trazido para a segurança de sua casa. Com o instinto maternal à flor da pele, Mel pode ter decidido amamentar filhotes que não são seus pelo simples fato de protegê-los.

Para Castagna, a adoção entre animais é muito comum. As fêmeas costumam aceitar sem problemas filhotes de outras raças ou até mesmo espécies diferentes para, inclusive, alimentá-los.

Outro fator determinante sobre a questão é que, geneticamente, é impossível que uma gata consiga gerar cães e vice-e-versa. Nem mesmo um improvável cruzamento entre os animais seria possível por seus diferentes hábitos de acasalamento, segundo o veterinário.

Questões científicas e comportamentais à parte, a possibilidade de alguém ter colocado os cachorrinhos ao lado da gata e criado toda uma polêmica em cima da história para atrair a atenção da Região inteira também não está descartada pelo especialista. Enquanto isso, os filhotes vão sendo amamentados por Mel, que quer apenas sossego em sua vida para poder curtir aquela que foi a sua primeira ninhada.

(Fábio Gallacci / Agência Anhangüera)

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